Coloquei a mão na maçaneta da porta e girei-a lentamente. A porta não estava trancada. Respirei fundo, e abri-a. Fiquei completamente sem palavras, pois aquela surpresa, comparada com a que tinha tido há cinco minutos, era bastante maior…
- Os meus avós… Exploradores?! - pronunciei, ainda boquiaberto.
Nas várias fotografias, eles encontravam-se juntos, e vestidos tal e qual como um casal de exploradores à procura de aventuras. As antigas fotografias a preto e branco retratavam pormenorizadamente cada detalhe da face dos meus avós, e eram tão assustadoramente detalhados, que me provocaram um ligeiro arrepio. Ali sentia-me na presença deles. Afinal, era por aquilo que os meus avós se ausentavam tanto tempo durante o Verão...
Eles construíram um santuário para fugirem ao seu dia-a-dia agitado e cansativo, e passavam ali horas juntos, e a recordar as suas fantásticas aventuras…
Depois, olhei para uma fotografia grande que estava junto à secretária. Demorei algum tempo a perceber quem eram, mas as suas caras são inconfundíveis.
Bem, a partir daquele momento, já podia dizer que eu e o meu pai já fomos bastante parecidos… Estava com um grande sorriso, algo que raramente se podia observar, ou até mesmo imaginar. Ao seu lado, a Tia Lucille mostrava um olhar travesso e brincalhão. Aí apercebi-me de que a razão que tornou o meu pai tão severo não começou na sua infância. Eu sempre quis saber porque é que isso aconteceu, mas sempre que falo disso, tanto a minha mãe como o meu pai ignoram o assunto.
Em cima da secretária, estava uma carta, junto com uma fotografia antiga da Avó Lucinda.
Estava muito mais jovem, e tinha sem dúvida a cara da Tia Claire. Tanto os olhos como a cara, relembrava-me muito a Tia. Eu decidi pegar nessa fotografia e guardá-la. Assim, ao contrário das que estão nas molduras, ninguém daria pela sua falta... De seguida, peguei na carta, e li um bocado. Datava de 1914, e era claramente uma carta de amor para a Avó. Debaixo dessa carta, haviam mais, muitas mais declarações tanto da Avó como do Avô.
Olhei para a outra ponta da secretária, e vi algumas ferramentas de aventureiro amontoadas.
Haviam alguns diários, cheios de selos e de anotações, uma antiga bússola, uma lupa enorme já rachada, e um mapa bastante velho, e já a partir para a decomposição. Não li nenhuma das entradas do diário, pois a minha prima já começava a estar impaciente, com tanto momento familiar. Apesar de serem os seus tios-avós, ela preferia ir para casa, para finalmente tomar o pequeno-almoço…
Abri algumas gavetas, na esperança de encontrar alguma coisa relacionada com a morte dos meus avós. Apesar de nem eu acreditar nem saber bem o que estava a fazer, eu continuei a procurar. Até hoje continuo sem saber porque é que naquela altura eu era a única pessoa no mundo a acreditar que algo - ou alguém - matou os Avós...
Quando estava à beira da exaustão, pois aquela era a secretária com mais gavetas que eu já tinha visto, encontrei algo que ainda me confundiu mais. Uma fotografia. Era uma mulher com um vestido branco, com cabelos castanhos e olhos turquesa. Foi aí que, ao olhar para aquela fotografia, me apercebi de como aquela mulher era igual à minha mãe.
A cara, a aparência, a expressão, tudo. Tirando o facto de a cor do cabelo ser ligeiramente diferente, aquela ERA a minha mãe. Mas porque é que uma fotografia dela estaria dentro da gaveta da secretária dos meus avós?