Capítulo Três

Segunda-feira, 20 de Agosto de 1968

- Onde estou? - perguntei eu em voz alta.
Encontrava-me numa divisão totalmente branca, que de tão brilhante me ofuscava com tão intensa claridade. Olhei para todos os lados, e não vi nada nem ninguém. Onde estaria eu? De repente, duas figuras conhecidas surgiram ao longe.


- Avô? Avó? - perguntei.
- Charlie… - disse o meu avô.
Eu quis abraçá-los, ir ter com eles, mas cada passo que dava fazia-os afastar cada vez mais. Decidi então permanecer no mesmo sítio.
- Avó? O que aconteceu?
- Charlie… Só tu poderás descobrir… - respondeu-me a avó.
Eu ficava cada vez mais confundido. Só eu poderia descobrir?
- Como assim?
- És um rapaz astuto e inteligente! Irás descobrir… um dia!
Quis fazer mais perguntas, mas eles continuavam a afastar-se cada vez mais.


Até que acordei. De novo, a campainha interrompeu o meu sono.
Daquela vez, foi a minha mãe que se dirigiu até á porta. Eu caminhei até à entrada para ver quem era.




- JOHN! A tua irmã está à porta.
Era a Tia Claire.
O meu pai demorou pouco até ir ter com a irmã. Deu-lhe um forte abraço, seguido de um suave beijo na face. Eu afastei-me para dentro do meu quarto. Preferi não interromper um momento de irmãos. Peguei num livro que estava na estante do meu quarto e continuei a lê-lo.




Os dois conversaram um bocado. Quando o meu pai entrou para o quarto para se vestir, eu decidi também fazer o mesmo.



Hoje, tinha à minha espera em cima da cama um fato negro adequado ao funeral. Esperei na entrada, e pouco depois, apareceram os meus pais, as minhas tias, e mais uma prima afastada que também veio.



A prima Audrey tida trazido a filha, a minha prima Lindsay. Vi-a escassas vezes, mas quando brincávamos juntos, ela até era uma boa companhia. Como já todos estavam prontos para o funeral, fomos até ao Cemitério de Vila Velha.
A viagem foi curta. O meu pai indicou-nos onde estavam as urnas dos avós, e nós juntámo-nos em volta delas. O meu pai e as suas irmãs ficaram à frente. Foi doloroso vê-los sofrer assim. Eu não desejaria aquela dor a ninguém, nem mesmo ao meu pior inimigo.


Naquele momento, lembrei-me de como eles me aconchegavam e tratavam de mim com tanto carinho, quando lá ia passar o dia. Lembrei-me da última vez de que lá estive. Fora no mês anterior. Lembrava-me tão bem da comida que a avó Lucinda preparou, e do quadro magnífico que pintei com o Avô Darren. Foi o sentimento de que essas pequenas mas significativas coisas nunca mais iriam acontecer que me fizeram escorrer várias lágrimas pelos olhos. Eu virei a cara para o lado, pois nunca gostei de que me vissem chorar. A minha mãe percebeu porquê, e para evitar chamar a atenção, deu-me um lenço. Aquele gesto fez-me perceber de que o amor dos meus avós é tão grande como o dos meus pais. Não consegui mesmo conter um pequeno e subtil sorriso ao dar conta disso. Foi aí que todos os meus remorsos e a saudade dos meus avós começaram a diminuir parcialmente.

2 comentários:

  1. Parece que vem ai misterios e aventuras para descobrir o que acontecer aos avos do -C- Charlie... lol
    Continua assim...

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  2. Sim senhor! ADOREI! Muito mistério está aí a caminho! Estou a gostar muito do enredo e espero por mais! ;)

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